'Não dá para levar ao bar': jovens estão largando tudo por amigos de IA…

 


Amizade agora é coisa de robô. Até essa área historicamente humana está sendo invadida pela inteligência artificial. Atualmente as pessoas têm personalizado IAs para compartilharem sentimentos, afetos e confiança.

"As companhias de IA são a personificação digitalizada dos amigos imaginários. E tem gente que ganha dinheiro com isso. Recentemente em episódio elaborado pelo "Deu Tilt", o podcast do UOL para humanos por trás das máquinas, Helton e Diogo Cortiz contam que muita gente está transformando os "AI Companions" (Companhia de IA, em tradução livre do inglês) em amigos do peito. E isso é um problema, pois gente de carne e osso está projetando sentimentos reais para máquinas programadas por empresas.

Na prática, eles são chatbots que funcionam como avatares com a função primordial de serem "amigos" dos usuários. Com eles, tudo é personalizável e cada pessoa pode definir desde a personalidade ou se esse avatar será um personagem de filme ou não. Diogo testou alguns deles.

"Troquei ideia com o Freud, cara. Einstein? Um brother! De sentar na mesa e tomar breja"
Diogo Cortiz

"O problema é que não dá para levar essa galera para o bar"
Helton Simões Gomes

Essa proposta de relação é conhecida como "intimidade artificial", e se descreve como uma via de mão única onde a pessoa projeta um sentimento e acha que é real, só que a máquina não te conhece. Ou te conhece tão bem a ponto de te manter ali pagando. No fim do dia, há uma questão de modelo de negócios por trás que precisamos discutir e rápido, pois há pessoas ganhando com essa fragilidade.

O pesquisador argumenta que é necessário debater e deixar claros os limites do que é humano e do que é máquina. Algumas plataformas, como o ChatGPT, avisam que são apenas inteligência artificial, caso os assuntos se tornem muito pessoais. O mesmo não ocorre com outras plataformas, como a Character.AI, o que gera um sinal de alerta, pois o medo é normalizarem isso, o que traz um desafio enorme para a sociedade. E trata-se de um mercado em expansão.

Plataforma Character.AI

A plataforma que impulsionou os amigos de IA tem dedo de um brasileiro: Daniel de Freitas, que saiu do Google para criar a empresa - com o sucesso e um acordo bilionário, ele voltou à Big Tech. Com 20 milhões de usuários, a Character.ai detém um tipo de cliente precioso para empresas de tecnologia, os jovens na faixa etária entre 13 e 25 anos. A plataforma permite ao usuário conversar com personalidades - como Freud e Einstein, com quem Diogo dialogou - ou criar uma pessoa completamente do zero. Foi assim que nasceu o "tiltzinho", cria do pesquisador Diogo Cortiz.

A Character.ai está envolvida em um processo judicial que a acusa pela morte de um jovem de 14 anos, vítima de suicídio. A mãe do garoto processou a empresa alegando que a plataforma levou seu filho a "experiências antropomórficas, hipersexualizadas e assustadoramente realistas". O jovem se envolveu "romanticamente" com o chatbot, que era inspirado em Daenerys Targaryen, personagem da saga "Game of Thrones", a ponto de querer se unir a ela no mundo virtual.

Outro co-fundador da Character.ai é Noam Shazeer. No mundo da tecnologia, ele é uma figura crucial por ter sido um dos criadores do artigo "Attention is all you need", considerado pedra fundamental da inteligência artificial moderna.

Escrito em 2017 com outros sete cientistas do Google, o documento propôs a "Transformer", uma nova arquitetura de rede para grandes modelos de linguagem, peça chave na IA generativa. Ou seja, se hoje existe o ChatGPT, modelos de IA e de linguagem, é por conta dessa arquitetura de 2017.

A tecnologia está crescendo, se desenvolvendo, tomando proporções incomensuráveis; porém, o problema maior está na supervisão dos pais sobre os menores em contato com tanta informação sem filtro ou controles.

Precisamos ficar atentos, alertas e participativos.

Fonte: UOL